Todo dia Marlene tem que pagar três
conduções para chegar ao trabalho, todo dia ela tem que vestir um uniforme
branco, em que ela não se sente bem, só para receber um salário mínimo. Quando
chega no trabalho é sempre a mesma coisa, não recebe um bom dia, nem um oi de
seus patrões, tudo o que recebe são ordens, “vai lavar a louça, vai jogar o
lixo fora, vai passar roupa, vai arrumar a cama. ” E não para por aí. Seus
patrões acham que ela não merece respeito, que ela é ignorante, não tem nem o
ensino médio completo. Sim, é verdade, ela não tem nem o ensino médio completo,
porque desde muito jovem teve que trabalhar para ganhar dinheiro e ajudar sua
família, por isso ela merece ainda mais respeito, por se esforçarem pelo menos.
Ela trabalhou desde jovem em bairros como Higienópolis, onde as empregadas
domésticas passeiam de carrinho de bebê com os cachorros e usam uniforme para
trabalhar.
Ela
não está contente com o trabalho, mas também não reclama, pois tem que
sustentar três filhas, e ainda pagar o aluguel da casa. Marlene não queria
estar vivendo assim, gostaria de estar estudando para conseguir passar em uma
faculdade e arranjar um emprego que ela goste, em que seja tratada com
respeito, queria uma casa em um bairro onde pudesse se sentir tranquila com as
filhas andando pelas ruas, sem medo de que fossem assaltadas ou estupradas,
gostaria de ficar um pouco menos preocupada.
Mas
Marlene tem que lidar com a realidade, tem que pagar as contas e comprar
comida, tem que colocar as filhas na escola para que com a idade de Marlene
elas estejam trabalhando em algo que gostem, e não passeando com cachorrinhos
em carrinhos de bebê.